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Marcelo Pimenta

Entre Tempos e Espaços


Entre Tempos e Espaços (imagem: Marcelo Pimenta) Salssisne

Se pudesse perdoaria o tempo, fui eu quem passei, ele só viu. Se nada me custa ficar à espreita de mim, vigio este remate em delírios, controlo-me para não sentir as razões imploradas aos sentimentos impacientes de me levarem. Passei do tempo, com o tempo, pelo vento a debelar feridas. Seja esta a última vez que me vi assim. Estive nu, estive preso, estive antes.

Exalo em sensações de ficar, me quero ausente da matéria e teimo em paciências de mim, não me aguento em antagonismos de época. Insisto em antes e depois, morro hoje. Já senti tanto ao atropelar emoções, não vi, não quis ver, e agora não as encontro no momento quedo, quando poderia reconhecer cada pétala desta flor vivente que deveria namorar. Me esfrego em manhas de querer rebuscar o passado e guardar outra vez em escaninhos as impressões de esquecer depois. Me leva o vagão sem trilho, o carro escolhi aleatório, o banco livre de conviver, a janela aberta de ventar espantos.

Mordo lábios a imaginar o que teria sido. Engasgo-me com esta incontinência leviana de trazer sentidos da imaginação, enquanto me pergunto se não seriam assim os movimentos de dentro, loucos de todas as paixões, encharcados de todos os momentos abandonados, como se pudéssemos. Destinos não há. São pequeninas escolhas a nos enganar, as outras todas nos fazem quase nada, nos inundam. Custa aprender o episódio repetitivo da violência de todos a intervir incautos nesta vereda, achei minha.

Nada passou enfim. Ficamos todos a observar de ensejos diversos o que não soubemos agrupar nas coerências furtivas a que nos obrigou o medo. Desse nada falamos, pois foi o mestre das proezas não tidas, o tirano das missas de encantar e jogar aos céus de euforias o que não passou de ardências efêmeras. E pasmamos a desperdiçar momentos insistindo em tristuras, quando ali fora está o belo, o espelho gratuito a nos mostrar atrás do ombro, a ver o deixado, a acariciar tudo em evoluções da mentira, sem nos ver ignorantes de desaprender o que seria o decurso, dessabidos da fonte incansável de alegrias ficantes e arrependidas. Voltaram sem ir, perdidas por não encontrarem gargantas, os ares engasgados. Atiça o corpo sem colo, apenas a ira de nada ter percebido, afogos de uma vida entorpecida que cala.

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